A Amnistia Internacional (AI) considerou esta terça-feira que a morte da turista espanhola na favela da Rocinha, no Rio de janeiro, é resultado do emprego desnecessário e excessivo da força letal por parte das forças de segurança brasileiras.
“A morte de uma turista espanhola, na segunda-feira, devido a disparos de polícias na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, é o resultado de um padrão de ação repetido pelas forças de segurança na cidade, fazendo uso desnecessário e excessivo da força letal”, afirmou a organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos, em comunicado.
A vítima foi identificada como Maria Esperanza Ruiz Jimenez e tinha 67 anos.
Dois polícias envolvidos no incidente que culminou na morte da turista espanhola na Rocinha, a maior favela da cidade brasileira do Rio de Janeiro, foram presos na noite de segunda-feira.
Os agentes disseram que dispararam contra o veículo onde estava a turista porque o motorista não terá obedecido a uma ordem de paragem, mas o condutor do carro afirmou, em depoimento, que não os viu e que não havia sinais de um bloqueio no local.
“Além da morte desta pessoa, a intervenção policial resultou em mais três feridos – um civil e dois polícias – devido a disparos de armas de fogo. A morte da turista espanhola deve ser objeto de uma investigação exaustiva, imediata e independente pelas autoridades civis”, sublinhou Jurema Werneck, diretora executiva da Amnistia Internacional Brasil.
De acordo com a responsável da AI, “a Rocinha e outras favelas no Rio de Janeiro sofrem diariamente ações policiais que muitas vezes resultam em dezenas de pessoas mortas. A Amnistia Internacional conseguiu documentar isso, embora a polícia sustente que essas mortes aconteçam em ‘legítima defesa’, sendo que muitas delas são execuções extrajudiciais ou resultado de uso desnecessário e excessivo da força”.
“Somente este ano foram mais de 700 pessoas mortas pela polícia no estado do Rio de Janeiro. Solicitamos às autoridades que tomem medidas urgentes para reduzir as intervenções letais da polícia, por fim às execuções extrajudiciais e garantir que as pessoas suspeitas de responsabilidade criminal por tais crimes sejam levadas diante dos tribunais comuns de justiça”, conclui Jurema Werneck.
Segundo informações divulgadas pela imprensa brasileira, os polícias são orientados a seguir os procedimentos estabelecidos no Manual de Abordagem, que diz que não deveriam ter atirado, mas sim perseguido o veículo.
O portal de notícias brasileiro G1 relatou que o motorista, um italiano que mora no Brasil há quatro anos, disse às autoridades que deixou os turistas na parte alta da Rocinha acompanhados de uma guia turística.
O motorista esperou o grupo na parte de baixo da favela até ser chamado de volta no final do passeio. Depois de os turistas terem saído do veículo, o motorista relatou que ouviu disparos. Assustado, terá acelerado o carro e, então, a turista espanhola foi baleada.
Já os polícias afirmaram que desconfiaram que o veículo poderia estar a transportar alegados criminosos da comunidade, já que tinha subido vazio para apanhar os turistas.
O Rio de Janeiro vive uma onda de violência, que mobilizou autoridades locais e federais para conter a ação de traficantes nas favelas da cidade.